6 de março de 2011

BIOGRAFIA ESPÍRITA



Nascido em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804 e desencarnado em Paris, no dia 31 de março de 1869
 ALLAN KARDEC 
Muito se tem escrito sobre a personalidade de Allan Kardec, existindo mesmo várias e extensas biografias sobre a sua obra missionária.
É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente ao dia 18 de abril de 1857, quando publicou a magistral obra "O Li­vro dos Espíritos", que deu início ao processo de codificação do Espiritismo.
Nesta súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns in­formes sobre a sua inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral.
O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Ri-vail. "Hippolite" em família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D. Rivail" na Literatura — era, desde os 18 anos mes­tre colegial de Qências e Letras, e, desde os 20 anos renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudónimo de Allan Kardec.
Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamen­te educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi. E, em Paris, sucedeu ao próprio mestre.

Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à obser­vação e estudo dos fenómenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiên­cia. A sua própria reputação de homem probo e culto consti­tuiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, di­vulgava "O Livro dos Espíritos". Em 1858 iniciava a publicação da famosa "Revue Spirite". Em 1861 dava a lume "O Livro dos Médiuns". Em 1864 aparecia "O Evangelho segundo o Es­piritismo"; seguido de "O Céu e o Inferno" em 1865. Finalmen­te, em 1868 "A Génesis — Os Milagres e as Predições", com­pletava o pentateuco do Espiritismo.
Na ingente tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no trabalho de compilação de "O Livro dos Espíritos": Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a conca-tenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os es­clarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados to­dos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos; a se­nhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de incor­poração; a sra. Leclerc, médium psicógrafa; a sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação; a sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada; sra. Roger, clarividente; e srta. Aline Car-lotti, médium psicógrafa e de incorporação.
Escrevendo sobre a personalidade do ínclito mestre, o emé­rito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, nn palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicida­de, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias.

De estatura meã, apenas 165 centímetros, e constituição delicada, embora saudável e resistente, o professor Rivail tinha o rosto sempre pálido, chupado, de zigomas salientes e pele sardenta, castigado de rugas e verrugas. Fronte vertical com­prida e larga, arredondada ao alto, erguida sobre arcadas orbi­tarias proeminentes, com sobrancelhas abundantes e castanhas. Cabelos lisos e grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás (onde alguns fios mal encobriam a larga coroa calva da ma­dureza), repartidos, na frente, da esquerda para a direita, sem topetes, confundidos, nos temporais, com as barbas grisalhas e aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e cobriam, na nuca, o colarinho duro, de pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados, com olheiras e pápulas. Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos olhos, com largas narinas entre rictos arqueados e austeros. Bigodes rarefeitos, aparados à borda do lábio, quase todo branco. Pêra triangular sob o beiço, disfarçando uma pinta cabeluda. Semblante severo quan­do estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais im­pressionava era o olhar estranho e misterioso, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstraio para o vago senão quan­do meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloquência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada. Quando distraído, a ler ou a pensar, co­fiava os "favoris". Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tole­rância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos ínti­mos, apunha algumas vezes a destra no ombro do ouvinte, num gesto de familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas."
Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar, desven­dando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos postulados do ninfo Cristianismo.
Filho de pais católicos, Allan Kardec foi criado no Protes­tantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre pensador e homem de análise. Compungia-lhe a rigidez do dogma que o afastava das concep­ções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e ortodo-xias, tornava-o incompatível com o princípios da fé cega.
Situado nessa posição, em face de uma vida intelectual absorvente, foi o homem de ponderação, de caráter ilibado e de saber profundo, despertado para o exame das manifestações das chamadas mesas girantes. A esse tempo o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos que, por toda a parte, se registravam e que, pouco depois, culmi­naram no advento da altamente consoladora doutrina que rece­beu o nome de Espiritismo, tendo como seu codificador, o educador emérito e imortal de Lyon.
O Espiritismo não era, entretanto, criação do homem e sim uma revelação divina à Humanidade para a defesa dos postu­lados legados pelo Meigo Rabi da Galiléia, numa quadra em que o materialismo avassalador conquistava as mais pujantes inteligências e os cérebros mais proeminentes da Europa e das Américas.
A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no dia 1.° de abril de 1858. Seu nome era "Sociedade Parisiense de Estudos Espíri­tas". A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso, propugnando para que atingisse os nobilitantes objetivos para os quais foi criada.

Allan Kardec é invulnerável à increpação de haver escrito xuli n influência de ideias preconcebidas ou de espírito de sistema. Homem de caráter frio e severo, observava os fatos e dessas observações deduzia as leis que os regem.
A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na ga­
leria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão extraordinário como a Re­volução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o uni­verso, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados .pelas religiões. A mis­são do ínclito mestre, como havia sido pregnosticada pelo Espí­rito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transfor­mar a Humanidade. A missão foi-lhe tão árdua que, em nota de l.° de janeiro de 1867, Kardec referia-se a ingratidões de amigos, a ódios de inimigos, a injúrias e a calúnias de elementos fanatizados. Entretanto, ele jamais esmoreceu diante da tarefa.

Fonte: Godoy, Paulo Alves, Grandes Vultos do Espiritismo, FEB, 1981, 1º Edição.

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