Por Ricardo Viana
PRÉ-EXISTÊNCIA ESPIRITUAL
Em todas as tradições religiosas a relação entre o Céu e a Terra sempre foram intensas. Em todas elas a preocupação maior sempre foi o desenvolvimento individual, embora nem sempre essa intenção ficasse extremamente clara, obviamente devido ao apego do "Homem Encarnado", que sempre enxergou primeiro as coisas da terra.
Urn dos pontos bastante discutidos nas várias religiões é o da preexistência da Alma ou Espírito.
Na Genesis quando Deus cria o mundo diz: "Façamos o Homem à nossa semelhança". Ora, a palavra em evidência é "façamos", que de certa forma supõe que Deus não estaria sozinho na criação do Homem e muito menos do Planeta, é ainda confirmada nas palavras "... à nossa semelhança." Estaria então Deus afirmando que já existiam Espíritos criados antes da criação do Planeta? E se estes o ajudaram nesta criação!
É evidente que Deus, criador de todas as coisas, não cessa de criar, é evidente também que antes de criar o universo só poderia existir ele mesmo, ou então, haveria outro Deus antes dele.
Em várias religiões encontramos referência à anterioridade da existência de Deus. No Rig-Veda de origem Hinduista está escrito: "Não havia então não existência, nem existência; não havia Reino do ar nem firmamento pôr trás dele". igualmente a Genesis diz que no início havia apenas a escuridão e o vazio.
O livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec diz que "Deus é a Inteligência suprema, causa primária de todas as-coisas."
Sendo á base de todas as religiões, Deus, é mencionado de várias formas e vários nomes, todos moldados pela forma de compreende-lo e limitada à época na qual essa compreensão se deu, daí o porque tantos deuses diferentes, no entanto, em todas as épocas e em todas as religiões O Pai Maior é sempre o soberano e anterior a tudo e a todos.
O segundo ponto, como já mencionado é a criação e existência dos Espíritos que povoam o universo, ou seja, nós!
Nas mensagens passadas pôr Maria, no livro "Mensagens de Maria para o Mundo: , ela diz: "O mundo espiritual" ou o outro lado é o mundo real. A vida real é vivida no mundo espiritual. Deus deu a cada pessoa a vida eterna quando você tem urna morte física, isso nada mais é que uma passagem para o mundo real de onde você veio."
No Bhadavad Gita, Khishna no meio da guerra diz ao seu discípulo: "Quem considera esse um matador, e quem pensa que aquele (referindo-se ao que havia sido assassinado pelo outro soldado) é morto, ambos são ignorantes".
Em João (3:6), Jesus diz "O que nasce da carne é carne e o que nasce do espírito é espírito".
O Bhadavad Gita, considerado anterior ao evangelho de João e a mensagem de Maria, posterior aos dois, afirmam a existência do espírito antes do corpo. O que nasceu da carne, só pode ser carne, nasceu do genes dos seus pais terrestres e o que nasceu do espírito, só pode ser espírito, é imortal, foi criado à imagem e semelhança do Espírito primordial, só pode ser espírito. O mestre faz uma distinção clara entre a matéria (corpo) e espírito, o primeiro suscetível de destruição e o segundo imortal.
Devido as nossas crenças inadequadas e erradicadas nos vários séculos, tendemos a negar essa realidade, mesmo que à compreendamos intelectualmente, ainda assim continuamos tendo à ideia de um corpo que tem um espírito e não ao contrário.
A preocupação dos Egípcios e Tibetanos em mostrar e esclarecer sobre o plano espiritual e com a passagem para o outro lado, nos trouxeram obras com o Livro dos Mortos, tanto o Egípcio como o Tibetano. Ambos traçam todo o percurso sofrido pelo espírito no momento da morte, como se preparar para ela, e o contato com seres que ajudarão na passagem.
A Seicho-no-ie, tradição oriental trazida ao\Brasil pelo mestre Masaharo Tanigushi ,diz ern sua Sutra Sagrada: " ...a natureza real do homern é vida-espírito." Saint Germain, o grande alquimista na Nova Era, também nos diz o mesmo ; " O homem aceita o corpo como sendo indivíduo em vez de compreender que o corpo é tão somente um vestido que o indivíduo usa."
No já mencionado Livro dos Espíritos, Kardec questiona sobre a existência e anterioridade dos espíritos diante à matéria; ele pergunta:
- Os espíritos constituem um mundo à parte, além daquele que vemos?
- Sim, o mundo dos espíritos ou inteligências incorpóreas.
Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo é o principal na ordem das coisas?
- O mundo espírita ele preexiste e sobrevive a tudo.
- Os Espíritos ocupam um região circunscrita e determinada no espaço?
- Os Espíritos estão pôr toda parte; povoam ao infinito os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao vosso lado, observando-vos e atuando sobre vós, sem o saberdes; porque os Espíritos são uma das forças da natureza e os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios providenciais; mas nem todos vão a toda parte, porque há regiões interditadas aos menos avançados.
As evidências falam mais que amontoados de palavras, nós como Espíritos preexistimos ao mundo físico e "Deus" preexiste a tudo. Esse com certeza é o primeiro ponto de convergência entre as principais religiões.
EVOLUÇÃO E APRENDIZADO (REENCARNAÇÃO) "...se não cumpriram essa condição durante uma vida devem começar outra e uma outra, e uma terceira e assim por diante" (frase do livro Zohar, do Rabino Moisés de Leon).
A medida que a caminhada rumo ao conhecimento ia se estendendo fui percebendo que todas as tradições religiosas, em essência, e de forma bastante sutil se preocupavam com o aperfeiçoamento dos seus adeptos. Assim como no capítulo anterior as formas utilizadas para esse fim são diversas, porem unificadas.
Desde os livros dos Vedas (o mais antigo livro já conhecido), até as obras mais recentes, encontramos verdadeiros tratados de filosofia, ciência, moral, espiritualidade e condutas, que tem como objetivo o aperfeiçoamento individual e coletivo do homem. Claro que à medida que o tempo foi passado até hoje, pessoas movidas pelo apego à matéria, bens, dinheiro e poder, manipularam esses dados para proveito próprio e o que seria verdadeiros propulsores de almas, tornaram-se correntes que aprisionam milhares de mentes por todo o globo. Claro que o Piano Espiritual, sabedor das limitações do homem encarnado, em todas as épocas direciona espíritos com um certo grau de evolução para desvencilhar as amarras e descortinar o "véu de maia."
Jesus, nosso modelo, guia e irmão maior, teve uma grande preocupação em mostrar aos seus discípulos que sua missão envolvia não somente curar os enfermos, mas despertar as pessoas para a potencialidade existente em casa um "sereis santos, porque sou santo", "sedes perfeitos, porque perfeito é vosso pai que está no céu", ou "conheça à verdade, e a verdade vos libertará". E esse despertar envolvia também muita lucidez e prudência, principalmente quando ele diz para orar e vigiar, ou quando combateu os conceitos e dogmas erróneos, curando no Sábado, ou expulsando os mercadores do Templo.
Assim como Jesus outros enviados do Pai eram também criteriosos e sensatos em suas colocações. Buda diz:
"Não acrediteis numa coisa apenas pôr ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições, só porque foram transmitidas pôr longas gerações. Não acrediteis numa coisa só porque é dita e repetida pôr muita gente. Não acrediteis numa coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis numa coisa só porque as probabilidades a favorecem. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos velhos ou dos vossos instrutores. Mas, aquilo que vós mesmos experimentastes, provastes e reconhecestes verdadeiros, aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros - isso deveis aceitar, e pôr isso moldar a vossa conduta."
Para falar em aprendizado e evolução não poderia deixar de lado um tema bastante discutido mas sem ele não podemos explicar muitos pontos obscuros de nossa existência : a reencarnação.
Muitos ainda não conseguiram aceitar o contínuo processo de evolução pela reencarnação, nem mesmo o aprendizado nas esferas espirituais, dizem : "...se não aprendermos aqui, não mais aprenderemos e estaremos expulsos do Paraíso para sempre". Engraçado como o conceito de punição, sofrimento e cárcere ainda domina as mentes de várias pessoas, assim corno ainda é forte por parte das religiões, talvez isso ocorra devido à falta de compreensão sobre os desígnios do Pai Celestial.
Em 1° Carta de Pedro 3:19 e 4:6, lemos: "Foi com este espírito que ele (Jesus) foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere (umbral), àqueles que outrora, nos dias de noé, tinham sido rebeldes", e continua: " porque, pôr isso foi o evangelho também pregado aos mortos; afim de que julgados diante dos homens, segundo à carne, vivam segundo Deus no espírito."
Analisando a carta escrita pelo apóstolo Pedro notamos que esse diz claramente que a "Boa Nova" havia sido ensinado também para aqueles que estavam no umbral, confirmando a afirmativa de que nunca paramos de evoluir, portanto as afirmações de que após a morte física ficaríamos aguardando - sabe-se lá aonde-sem nada fazer ou dormindo contradiz c apóstolo. Ele ainda afirma que o objetivo de ensinar essa boa nova se dá devido à rebeldia na qual esses Espíritos estavam, sendo portanto julgados diante os homens "segundo à carne". Ora se após a morte física seriamos julgados por Deus porque então teríamos que ser julgados diante os homens (para que ensinar a Boa Nova aos espíritos que seriam julgados pôr atos que cometeram antes de conhecer o verdadeiro ensinamento?), parece uma contradição - mas na verdade o que Pedro procura dizer é que após o aprendizado e conscientes do mau que praticaram esses Espíritos deveriam reencarnar para resgatarem o mau que fizeram tentando fazer o bem (por isso o julgamento seria diante dos homens). Estando com seu resgate completado esse então viveria "segundo Deus." Talvez essa seja uma das passagens rnaís claras de um aprendizado anterior à reencarnação.
Em mensagens de Maria para o mundo, ela diz: "Os Templos que existem neste Plano, ou rnundo espiritual tem a finalidade de ajudar os seres espirituais a aprimorar determinadas áreas de suas vidas eternas. Esses Templos destinam-se ao aprendizado do amor, conhecimento, sabedoria, inteligência, força, criatividade, e muito mais..."
Hoje com a vasta literatura espírita, principalmente os de André Luiz através de Chico Xavier, foi-nos retirado o "véu de maya" que cobria a nossa consciência e descobrimos que esse "Plano do Espírito", não só existe como também interage com o Físico para um melhor desenvolvimento do Ser-Hurnano.
Reencarnação ou Ressurreição ?
"Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual".
Paulo em sua carta aos coríntios é muito claro ao explicar o aspecto de evolução destinado ao ser criado pôr Deus, alias, costuma-se fazer uma confusão entre reencarnação e ressuscitação, ambas são diferente, porém dependendo da interpretação podem significar a mesma coisa.
Os Hebreus na sua essência, a Tora, conhecem bem o termo, embora o seu real significado ficasse restrito à poucos, corno podemos notar no encontro de Nicodemos com Jesus:
"Rabi, disse Nicodemos - sabemos que sois mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém saberia fazer os milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus então diz: Em verdade, em verdade eu te digo: Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo. Nicodemos então disse: Como pode nascer de novo um homem que já está velho? Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e nascer outra vez? Jesus então responde: Em verdade, em verdade vos digo: Se um homem não nascerja água_e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. - O que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é Espírito. Não te admires pôr eu te haver dito: "Tendes de nascer de novo". O vento sopra onde quer; ouves sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo o aquele que nasceu do Espírito. Nicodemos inquiriu: Como pode ser isso? Jesus respondeu: - Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? Errrverdade. em verdade te digo que nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos mas vós rejeitas o nosso testemunho. Se não me acreditais quando falo das coisas da terra como me acreditareis se vos falar das coisas do céu?" (João III-1 à 12)
Exaltado pôr Nicodemos na afirmação que Jesus seria Mestre da parte de Deus, este se justifica dizendo que é nascendo de novo que entramos no Reino do Céu. Mas Nicodemos se espanta com essa afirmação e Jesus se espanta mais ainda ao ver que ele, um Mestre da Lei não sabia. Ora, Jesus distingue muito bem o que é corpo do que é espírito, o corpo sendo matéria, nasce da matéria, mas o espírito, este nasce do próprio espírito universal (Deus), é imortal e sopra onde quer pois, tem Livre Arbítrio. Jesus é mais enfático ainda quando afirma que está falando de coisas terrenas e não celestiais, ou seja "nascer de novo na terra". Sem esquecer que a água para os Judeus é o início da vida na Terra, pôr isso "Deus pairava sobre as água antes da criação do Universo." (Genesis 1:2)
A confusão sobre a Ressurreição era tamanha que os evangelistas pôr várias vezes cita que as pessoas achavam que Jesus poderia ser João, Elias ou qualquer outro profeta, sendo que João havia acabado de morrer (Jesus já estava nascido, impossibilitando tal feito) e todos conheciam os pais de Jesus, viram-no nascer e crescer como qualquer outro, portanto, se fosse um dos profetas "Ressuscitado", na verdade teria que ser algum profeta "Reencarnado".
Mas Jesus afirma mais claramente quando questionado sobre a "vinda de Elias", ele diz:
"É verdade que Elias há de vir e restabelecer as coisas, mas eu vos declaro que Elias veio e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram". É assim que farão ao Filho do Homem, Então seus discípulos compreenderam que era de João Batista que ele lhes havia falado.
Assim como a vinda do Messias foi prevista e se realizou, assim também o retorno de Elias teria que se cumprir, não como uma alegoria, como muitos querem pregar, mas como uma realidade e Jesus afirma claramente que ele era "João Batista".
O mestre confirma neste trecho a verdade sobre a reencarnação de forma clara e objetiva, sem margem a dúvidas e distorção pôr parte de interesseiros. Aliás, Jesus confirma em Mateus, 22: 23 à 33, que a forma de entender a Ressurreição estava errada : No mesmo dia vieram alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: "Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, seu irmão casará com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro, tendo casado, morreu: e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; da mesma sorte também o segundo, o terceiro, até o sétimo, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa, pois todos a tiveram? Jesus, porém, lhes respondeu: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus; pois na ressurreição nern se casam nem se dão em casamento; mas serão como os anjos no céu. E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que foi dito pôr Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos. E as multidões, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina.
Ou seja, Jesus fala em um corpo Espiritual, não diz sobre o retorno do Espírito ao mesmo corpo que já se desligou pôr completo; "Eu Sou o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus dos vivos e não dos mortos", ora, sendo o Espírito imortal, codsequentemente ele seria "Deus dos vivos".
A ressurreição que Jesus se refere é a purificação espiritual, que só poderíamos alcançar pelo aprendizado e evolução alçada pelo próprio esforço, daí a afirmação do Mestre que seriamos como "os anjos do céu".
Muitas das palavras e sentido das frases na Bíblia foram alterados com o intuito de apagar as menções sobre a Reencarnação, mas como toda a Verdade Espiritual ela é eterna, está em todas as religiões desde o início e "permanecerá sempre".
Em abril de 1857 era lançado, talvez o maior tratado de filosofia, religião e ciência, na qual a humanidade ainda ievará alguns anos para compreende-las completamente. Com o Livro dos Espíritos, tivemos condições de retirar muitas das dúvidas que pairavam nas cabeças de pessoas que não conseguiam compreender todos as faces de ensinamentos espirituais passados pelo Pai Celestial ao longo do tempo. No capítulo IV, Kardec pergunta aos espíritos:
Como a alma que não atingiu a perfeição durante a vida corporal, pode perdurar-se? "Ao submeter-se à prova de uma nova existência."
Como ela realiza essa nova existência? Através de sua transformação como Espírito?
"Ao depurar-se, a alma experimenta sem dúvida uma transformação; mas, para isso lhe é indispensável a prova da vida corporal."
Qual o objetivo da reencarnação?
"Expiação, melhora progressiva da Humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?"
O que se transforma o Espírito após a sua última encarnação?"Espírito bem-aventurado, um Espírito puro."
Ê interessante notar a semelhança entre a resposta dos espíritos de que o destino do espírito após seu estágio de reencarnações seria o de pureza e o esclarecimento de Jesus (já mencionado acima) afirmando que na ressurreição seriamos "como anjos".
Pergunto aos amigos leitores. Será que as afirmações sobre o juízo final e ressurreição não seriam justamente o período quando o espírito, após algumas reencarnações, adquirindo experiências e exercitando seu livre-arbítrio, se desvinculasse e vencesse todas as paixões terrestre, tornando-se um espírito puro? Não seria isso uma ressurreição?
Deixo essa questão em aberto para reflexão e estudo daquele que estiver disposto a correr atrás da "verdade", desafiando todos os conceitos pré estabelecidos, em busca do aperfeiçoamento individual e coletivo.
